Num ano em que se viu cinema do melhor – dando-se até o caso de ter estreado no nosso pequeno ecrã um filme até então só admitido no grande, “E Tudo o Vento Levou” – houve também boas séries para recordar: “As Teias da Lei” e “O Justiceiro” (qualquer delas em início de carreira), “O Polvo” (que já ia na terceira edição), “Fanny e Alexandre”, “Acção em Miami”, “Miss Marple Investiga”, “Terna é a Noite”, “O Diário Secreto de Adriano Mole”, “Primeiro entre Iguais”, “Lovejoy”, “Palácio dos Sonhos”, “Alf, uma Coisa do Outro Mundo” e “Alô, Alô”. No documentarismo, 6 grandes títulos: “A Evolução do Homem”, “Shoah”, “Africa”, “Desafio Mundial”, “O Século Americano” e “O Triunfo do Ocidente”. Quanto à telenovela, que continuava a pontar o designado “horário nobre” da RTP (aquele em que a publicidade se paga mais caro), o êxito do ano chamou-se “Roque Santeiro”,⁵⁰ depois de se terem visto, com médio agrado, “Cambalacho” e “Novo Amor”, também da TV Globo; e “Tudo ou Nada” e “Imigrantes”, das redes Manchete e Bandeirantes, respectivamente – que assim forçavam a entrada no mercado português. No meio desta inflação brasileira⁵¹ só um bom produto nacional se poderia tornar notado e “Palavras Cruzadas”, a quarta telenovela feita por portugueses, não o foi, de modo algum. Um argumento de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada (mal trabalhado quanto a diálogos e à personificação dos intervenientes) rendeu 120 episódios que a produtora, os Estúdios Atlântida (de Tózé Martinho), vendeu à RTP. Refira-se, como curiosidade, que quase todos os interiores foram rodados em células cenográficas erigidas no antigo cinema Capitólio, no Parque Mayer. Nicolau Breyner estreou-se a realizar, assim concretizando aspiração várias vezes manifestada e que já era prenúncio da carreira que consolidou. Mas isso foi mais tarde, porque, entretanto, assumiu no ecrã as várias caras necessárias ao êxito de “Eu Show Nico”, para cujo trabalho de escrita e concepção recrutou dois antigos companheiros de lides: César de Oliveira e Thilo Krasmann. Uma série de quadros impagáveis (de que se guarda memória dos piratas e da paródia à telenovela portuguesa) puseram o programa no bom caminho e garantiram-lhe o êxito que se prolongou por alguns meses. Outro tanto se poderá dizer de “Lá em Casa Tudo Bem” que assinalou mais um regresso de Raúl Solnado à Televisão, só que, desta feita, como aquilo em que se fez – actor. Salvo presença no teatro televisivo, acontecia pela primeira vez ver Solnado como intérprete de um folhetim semanal que pecando, embora, pela fragilidade das histórias, foi instalado pela RTP no seu 2º Programa, numa clara demonstração da vontade de enriquecer conteúdos.