- Década de 80
- RTP na idade da cor
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Emissões regulares a cores na RTP, finalmente, em 1980. Foi 7 de Março, dia do 23º aniversário da empresa, a data escolhida e o programa emitido para, simbolicamente, assinalar o arranque, tinha peso de tradição e lugar quase sempre certo em dia de anos da nossa TV: o Festival RTP da Canção. Foi, sim, a finalíssima desse Festival,1 transmitida em directo do Teatro Municipal de S. Luiz, em noite de festa muito animada, que entrou para a história, não apenas da RTP mas da comunicação social portuguesa. Talvez por força do gosto então fortemente “abrasileirado” do espectador nacional, lá esteve, no miolo do espectáculo, um conjunto bem chamado de “Frenéticas”, aliás de não muito boa memória, quer pela qualidade musical quer por alguns desaires de movimentação em palco que, inclusive, levaram a que uma frenética, das mais reboladas, deixasse descair – visivelmente! – a peça de cima do biquini. Mas a noite foi muito cheia, isso foi, pelas 9 canções que atingiram a finalíssima e donde emergiu como vencedora, por expressa vontade do júri nacional (após se cumprir aquela sempre emocionante “saga” telefónica), “Um Grande, Grande Amor”, de e por José Cid. Uma bela canção e, pelos vistos, uma feliz escolha, dado o que conseguiu e o que o futuro lhe viria a reservar na estrada do êxito.
As câmaras de cor (e eram 7, uma delas portátil, ligadas a uma única régie instalada num dos 2 carros de exteriores, sendo que um era, no seu género, o último modelo), esses olheirões então ainda mais indiscretos, estavam, naturalmente, sobre o essencial, que era o espectáculo, a desenrolar-se em palco de forma agradável, a avaliar pelos aplausos que iam contemplando as canções em desfile. Mas não faltavam objectivas também assestadas no lado mundano, diga-se que de forte pendor artístico, dada a natureza do evento, mostrando o que se passava na sala, varrendo-a dos camarotes para a plateia (ou vice-versa), consoante as ordens de Nuno Teixeira, afadigado na régie, sentindo sobre os ombros o peso todo daquela emissão, do seu primeiro Festival – e a cores! Nuno era, com efeito, um realizador extremamente motivado, nessa noite. A um jornalista da TV Guia, que o visitou no local de trabalho, evidenciou isso mesmo e não deixou de considerar: “Numa transmissão a cor, um dos factores principais é o da iluminação. No preto e branco a ´profundidade` em termos gerais, é transmitida pela ´movimentação` de planos. Na cor, são a luz e a cor propriamente dita, que fazem surtir o mesmo efeito. (...) A transmissão a cor envolve uma necessidade de rigor, não só na utilização das cores, pois nem todas ligam da mesma forma, mas também na utilização de técnicas de iluminação, caracterização, cenografia, etc.”2
Nuno Teixeira principiava na cor, como todos os demais técnicos e criativos, mas o certo é que saiu bem aquele trabalho ao redor do 17º Festival RTP da Canção, embora o seu brilho ocultasse uma injustiça: um dos homens que mais se batera para que a cor chegasse depressa aos televisores dos portugueses não estava à porta do S. Luiz a receber os convidados da RTP, nessa noite de aniversário. João Soares Louro era esse homem e fora Presidente da Comissão Administrativa até 18 de Fevereiro.3 Vítor Cunha Rego, que o substituíra, fazia as honras da casa, no seu primeiro acto verdadeiramente público após a posse, a 22 de Fevereiro.4 E estava consciente – tinha razões para isso – de que os funcionários que passara a dirigir partilhavam esse momento da viragem do preto-e-branco para a cor com satisfação e orgulho idênticos aos manifestados noutros que também tinham feito a história da Televisão em Portugal.
Mas se a cor era, nessa noite, o Festival, não era só. Porque, já antes, tingira o Telejornal e, logo depois, “Dancin´ Days”, mostrando as faces rosadas de certa moça que dava por Júlia mas que, por tal sinal, até era a mesma Sônia Braga de “Gabriela”, a telenovela mais querida, que um qualquer dia desses iria regressar... a cores. A promessa estava feita e seria cumprida.

A cor começava por aqui - pela "mira técnica"
"Um Grande, Grande Amor" - uma canção cheia da nova cor da RTP
Sob os olhares de Ana Zanatti e Eládio Clímaco (os apresentadores do "Festival RTP da Canção/80"), Manuela Bravo passa o testemunho a José Cid (triplo vencedor: letra, música e interpretação)
Carlos Paião - vencedor do "Festival RTP da Canção" em 1981
As Doce, que em 1982, ganharam o "Festival"
1 Antes, no Teatro Villaret, tinham-se realizado 3 eliminatórias, de cada uma das quais um júri, constituído por gente ligada ao mundo do espectáculo, escolheu as que considerou como sendo as 3 melhores. Foram pois 9 as canções que estiveram no S. Luiz, na noite da finalíssima. Ana Zanatti e Ver maisEládio Clímaco apresentaram o espectáculo, que teve produção de Isabel Wolmar e Melo Pereira e realização de Nuno Teixeira. A orquestra, de 33 figuras, que acompanhou os finalistas, era dirigida pelo maestro Jorge Machado. “Um Grande, Grande Amor” teve orquestração de Mike Sergeant, estando tudo o mais à conta de José Cid que, após 4 presenças em festivais, finalmente ganhou um. Na Holanda, em ano de “bodas de prata” do Concurso Eurovisão da Canção, o “grande amor” de Cid recebeu 71 pontos dados por 14 países, no máximo possível de 18, o que foi tão bom que assegurou para a RTP o 7º lugar, assim igualando a melhor classificação, até então: Carlos Mendes em “Festa da Vida” – 1972. Para assinalar o 25º Concurso Eurovisão da Canção, a UER e a NOS (a estação organizadora) prepararam uma surpresa: cada um dos 19 organismos participantes enviou a Haia um apresentador (ou uma apresentadora) para, em directo, introduzir em programa a respectiva canção. A representar a RTP esteve Eládio Clímaco, um nome com estreitíssima ligação ao Eurofestival, como, aliás, ao certame doméstico que apura a representação portuguesa. Voltar a fechar
Carlos Paião venceu o Festival RTP em 1981, após seguir a provada receita de Cid: escreveu a letra e a música da canção que interpretou. Deu-lhe o título “Play-Back” e confiou a orquestração a Shegundo Galarza. Apenas 9 pontos e o penúltimo lugar no Concurso da Eurovisão que, nesse ano, Ver maisse realizou em Dublin, com a participação de 20 organismos de TV. No ano seguinte, a representação da RTP foi atribuída, em resultado da votação nacional, ao conjunto vocal As Doce que, à terceira presença consecutiva no certame, viu premiada a insistência. A canção “Bem Bom”, de António Pinho, Tó Zé Brito e Pedro Brito foi proclamada vencedora por Alice Cruz (que apresentara o seu último Festival em 1973) e por Fialho Gouveia (que o fizera, pela primeira vez, 4 anos antes). Fátima Padinha, Helena Coelho, Laura Diogo e Teresa Miguel (As Doce, eram elas), e o maestro-orquestrador, Luís Duarte, viajaram até Harrogate (Reino Unido) e regressaram com 32 pontos, o que não deu mais do que o 13º lugar entre 18 concorrentes. Foi o ano em que a Alemanha Ocidental conseguiu a sua primeira vitória, após porfiar desde 1956... Voltar a fechar
2 Nº 57, 8 a 14 de Março de 1980.
3 “O Presidente da Comissão Administrativa da RTP, o militante socialista João Soares Louro, pôs o seu lugar à disposição do novo Governo AD. Não havendo, por enquanto, Ministro (nem Secretário de Estado) da Comunicação Social, a mensagem foi dirigida, anteontem, ao Ministro-adjunto do Primeiro-Ministro, Francisco Pinto Balsemão. A posição Ver maisde Soares Louro é já do conhecimento do chefe do Governo, Francisco Sá Carneiro, e do seu Secretário de Estado-adjunto, Vasco Pulido Valente. No entanto, só será tomada uma decisão sobre a RTP, bem como sobre os outros órgãos de Informação estatizados, depois de ter sido dado destino ao que até agora tem sido o Ministério da Comunicação Social” – isto escrevia o Expresso, a 5.1.1980, cerca de um mês antes de uma entrevista que Soares Louro concedeu ao jornalista José Rocha Vieira, do mesmo semanário (2.2.1980), depois de consumada a sua exoneração, e na qual expressava mágoa pelo modo como as coisas se tinham passado. “Sinto-me como quem foi despedido, por motivos políticos” – disse, acrescentando depois, a propósito da eventualidade de vir a ocupar outro alto cargo na comunicação social: “Não aceitei nem aceitarei qualquer situação que me seja oferecida por este Governo. Há um mínimo de dignidade. De resto, sou empregado da RTP e tenciono manter esse estatuto. Sinto-me muito bem no seio dos trabalhadores da Televisão e guardo deles um sentimento de profundo reconhecimento pela forma como me aturaram na condução deste barco.” Mais adiante, Louro referia-se, com certo entusiasmo, à RTP-2: “Deu uma nova dimensão à empresa, optimizou o seu aproveitamento técnico-operacional e a rede de distribuição. Cresceu mais rapidamente do que qualquer outro dos seus congéneres europeus. Atingiu uma insuspeitada qualidade. A sua Informação, por exemplo, ganhou crédito mesmo além-fronteiras e provocou, por outro lado, uma própria melhoria na Informação do 1º Canal. Toda a gente sabe que em alguns sectores o 2º Canal é apelidado de ´vermelho`. Penso que é uma qualificação injusta e que expressa tão só a opinião de uns quantos para quem a liberdade se resume a deixar que os outros pensem como eles.” Voltar a fechar
4 Com Vítor Cunha Rego entrou para a Comissão Administrativa da RTP a drª Idalina Neves de Sousa, que substituiu o cap. Leopoldo Águas. A posse foi-lhes conferida pelo Secretário de Estado da Comunicação Social, dr. Sousa Brito, que ainda não havia muito deixara o seu lugar de vogal da Ver maisgestão de Soares Louro. Dois novos vogais, drs. Pinho Cardão e Mendes da Fonseca, tomaram posse a 19 de Março e 18 de Abril, respectivamente. Nesta última data saiu o dr. Vaz Mascarenhas, que fora o único elemento a transitar da anterior Comissão Administrativa. Voltar a fechar
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