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  • Década de 80
  • Grandes projectos, novos desafios
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Três acontecimentos do maior significado marcaram a vida da Radiotelevisão Portuguesa quando se aproximavam 30 anos de serviços regulares por ela prestados no Continente. Primeiro, a inauguração do Centro de Emissão, instalado no edifício-sede, na avenida 5 de Outubro; depois, o anúncio feito pelo Conselho de Gerência da prioridade atribuída à conclusão da rede de distribuição de sinal; por último, a transmissão, pela RTP-2, do programa “Europa TV”.

Vamos, desde já, ao Centro de Emissão, que se esperou pela festa inaugural (a 8 de Outubro de 1986) para que todos vissem como trabalhava em pleno, a verdade é que, desde há meses, vinha gradualmente fazendo entrar ao serviço algumas das suas áreas. Assim sucedeu com a continuidade do 2º programa, por se necessitar que, a partir de 5 de Maio, respondesse às exigências de transmissão do “Europa TV”; depois, a 2 de Julho, entrava em funcionamento a continuidade do 1º Programa; e, 5 dias depois, iniciava-se a produção, pós-produção e emissão de todos os programas da Direcção de Informação.

Franco Dias, Director-Coordenador Técnico da RTP e coordenador-geral do projecto,1 lembrava então que o CE (sigla adoptada pela gíria interna) “nasceu da oportunidade de modernizar a RTP, tanto quanto nos era possível, e na sequência dos primeiros investimentos para a instalação dos equipamentos de cor nos estúdios do Lumiar, Porto, Madeira e Açores e ainda com a compra do novo edifício-sede da avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Os espaços neste existentes permitiam conceber um projecto para nele se instalarem duas áreas importantes com características específicas e distintas da área de Produção – um Centro ´nodal` com a continuidade das emissões dos 1º e 2º Programas e a área da Informação. Este projecto visava, ainda, deixar a possibilidade de desenvolvimento da área de Produção sediada no Lumiar, com a utilização integral dos espaços e equipamentos instalados, quando libertada das áreas de continuidade de emissões e da Informação. Esta ideia-base foi posteriormente lançada em 2 anteprojectos – um elaborado com o apoio do Conselho da Europa e outro elaborado com o apoio da assistência técnica alemã e finalizados em 1978 e 1979, respectivamente. Com a constituição do grupo de Planeamento do Centro de Notícias e Continuidade – CNC (antecessor do CE) – nomeado pelo Conselho de Gerência em fins de 1980, deu-se início aos trabalhos de elaboração dos diferentes projectos de infra-estruturas – arquitectura, energia eléctrica, ar condicionado, acústica, segurança e instalações especiais – e aos projectos de sistemas e equipamentos – video, áudio, intercomunicação, iluminação de estúdios, relógios e sistemas periféricos.”2

Ocupando uma superfície de 3 400 m² (parte do piso 0 e a totalidade do piso 1), o CE tinha, ainda, instalados nos terraços inferiores e superior do edifício, os equipamentos de ar condicionado, feixes hertzianos e uma antena parabólica (dois metros e meio de diâmetro) para a recepção de programas via satélite ECS-1. Meios técnicos e equipamentos disponíveis para a troca de notícias e para as transmissões unilaterais provenientes ou com destino a organismos internacionais ou estações de Televisão estrangeiras, assim como para a recepção de todos os programas do exterior, nacionais ou internacionais (estes, também por satélite) e a transmissão e a recepção de programas dos centros de produção da RTP no Porto, Faro, Madeira e Açores. Para cumprir todos estes propósitos, a central técnica do complexo funcionava como o “cérebro”, a partir do qual e para o qual convergiam as mais diversas ramificações, quais “nervos” que sensibilizavam as fontes de emissão, estivessem elas perto ou longe. Uma central equipada com uma matriz de comutação electrónica, pronta a dar resposta às diversas opções de comando requeridas pela coordenação técnica, controlo e tratamento dos sinais de recepção e envio de programas, suportados por equipamentos de feixes hertzianos constituídos por 10 unidades de recepção e 10 unidades de envio. Ao redor desse polo centralizador, várias salas guarnecidas de equipamento técnico que, na altura, era o mais moderno e sofisticado que se fabricava. Cinco delas destinadas a videotapes (24 unidades); três a telecinemas (4 de 16 e 35 mm., além de transmissores de imagens fixas); duas para pós-produção áudio, com cabines de locução “off”, destinadas a sonorizações e dobragens; e algumas outras dependências, albergando: legendagem electrónica, teletexto, grafismo electrónico, artes gráficas, arquivo audiovisual e serviços de apoio (planeamento, coordenação, manutenção, etc.). De referir, ainda, duas pequenas salas para visionamentos, complementares do Auditório existente no piso 0 e com capacidade para 100 pessoas.

Reservados para a Informação ficaram os 2 maiores estúdios, construídos no piso 0 e tendo, cada um deles, uma área útil de 130 m² e equipamento gémeo: 4 câmaras, sendo duas delas servo-comandadas (quer dizer, telecomandadas a partir da régie) e com um sistema de teleponto associado.3 Estes estúdios, com as correspondentes régies de video e áudio (instaladas no piso superior) eram a porta de saída dos programas elaborados pela Direcção de Informação, com redacções nos pisos 2 e 3 (área total: 1 800 m²). Em cada um destes pisos (que substituíram, definitivamente, as antiquadas instalações do Lumiar)4 encontravam-se 5 salas equipadas para a montagem das reportagens em video – as “ilhas de montagem”, como vulgarmente são conhecidas. Ao dispor da Informação estavam, na altura, 20 equipas de reportagem-vídeo. Instalações e equipamentos proporcionaram novos métodos de trabalho e conferiram outra dinâmica ao desempenho dos repórteres e dos jornalistas. Disse-se, na ocasião, e com justo senso, que a Informação da RTP entrava numa nova era.

Ainda ligado à Informação, mas mais ao dispor dos jornalistas estrangeiros que nos visitavam em missões de trabalho, um outro estúdio (32 m²), no piso 1, dispondo de duas câmaras servo-comandadas e designado por “estúdio internacional”, justamente por isso, porque era a partir dele e da correspondente régie que se enviavam para o Mundo serviços unilaterais. No mesmo piso estavam os 2 restantes estúdios do complexo do CE, com 23 m² cada, aqueles que serviam a continuidade dos 2 canais de emissão. Pelas respectivas régies passavam as imagens captadas pelas 2 câmaras disponíveis em cada estúdio e as exigências técnicas inerentes à iluminação, ao video e ao áudio.

Mostruário de avançadas tecnologias postas ao serviço de objectivos bem determinados, o primeiro dos quais era, naturalmente, a melhoria da qualidade dos produtos finais – que também se obtém com o gozo que dá manusear equipamentos de grande perfeição e capacidade de resposta – o novo Centro de Emissão da RTP foi uma realidade a que se chegou após caminhos nada fáceis, mesmo penosos, por vezes. Mas é a vencer sucessivos escolhos que se encontra o ânimo indispensável para ir adiante, até se dar a tarefa por cumprida. Franco Dias não se dispensou de referir isso mesmo na alocução com que abriu a cerimónia inaugural e a que estiveram presentes o Ministro-adjunto do Primeiro-Ministro, Fernando Nogueira, a Secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia e o Secretário de Estado dos Transportes e Comunicações, Sequeira Braga. No auditório da RTP havia quase tanta gente em pé como sentada, nesse fim de tarde de festa não apenas para a empresa mas para a comunicação social portuguesa, vendo-se, entre os convidados estrangeiros, vários representantes de empresas intervenientes, quer no plano financeiro, quer no fornecimento de equipamentos e materiais. O Presidente do Conselho de Gerência da RTP, Coelho Ribeiro, após as saudações da praxe, afirmou, em dado passo:“O Centro de Emissão é apenas um começo – excelente e indispensável, sem dúvida, mas não mais do que isso – da urgente modernização da nossa empresa, de um modo geral. Desde a sua estrutura orgânica até às condições técnicas de produção e distribuição (…) É apenas o começo de uma profunda reorganização e reestruturação da RTP, na qual nos empenharemos nos próximos 5 anos, segundo um contrato de programa actualmente em preparação e que deverá definir e orientar a vida da RTP durante esse período. Prioridade absoluta será dada à conclusão da rede de emissores que, 30 anos após a criação da RTP, ainda não está completada.”

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Central Técnica - "cérebro" para onde convergem os centros nervosos ao serviço das várias fontes de emissão, estejam elas perto ou longe

Régie de emissão

Outra régie

Unidades de montagem vídeo

Equipamentos de telecinema

Um dos estúdios de Informação

O Telejornal num dos seus novos estúdios

Equipamento técnico de moderna geração em serviço nos estúdios


1 O grupo que se deteve no planeamento do projecto, ou seja, que concebeu, instalou e pôs em funcionamento o novo complexo técnico-operacional da RTP, era também constituído pelos engenheiros Ferreira Alenquer, Ismael Augusto, Delfino Ramos e Domingos Rio Tinto (que se ocuparam de infra-estruturas, sistemas operacionais, sistemas de video Ver maise instalação, e sistemas de áudio e manutenção, respectivamente); arquitecto Sousa Menezes (arquitectura); dr. Humberto de Araújo (aspectos económico-financeiros); Gomes Henriques (logística); engenheiros Gunter Enders e Eugen Kowalski (consultores) e Raquel Morgado (secretariado). Temporariamente, fizeram também parte do Grupo de Planeamento, como especialistas de Informação, José Eduardo Moniz e Adriano Cerqueira. Voltar a fechar

2 Grande Plano - revista da COOP TV, nº 2, Março-Abril 1986.

Já anteriormente se referiu que o empreendimento foi possível graças a um contrato de empréstimo firmado com o banco alemão KFW (30.10.1981) com condições de juros verdadeiramente excepcionais. Contas feitas, o montante envolvido rondou os 2 milhões e 400 mil contos, a que se deverá acrescentar uma verba de 350 Ver maismil contos investida directamente pela RTP que, aliás, também suportou os custos da ligação, por feixes hertzianos, Lumiar - Monsanto - 5 de Outubro, no valor de 250 mil contos. Os primeiros concursos internacionais foram abertos em Julho de 1982, considerando-se, então, ser possível que o Centro começasse a laborar dois anos, dois anos e meio mais tarde. As previsões não se cumpriram por motivos vários, mas dos quais não parece possível dissociar a circunstância de, desde o primeiro projecto até à inauguração, em 1986, a RTP ter conhecido 8 (!) Conselhos de Gerência. Voltar a fechar

3 Qualquer destes estúdios dispunha, ainda, de um sistema de iluminação de 60 vias (órgão de luzes) controlado da régie, bem como as barras de suporte, motorizadas; de um misturador de video de 24 vias; de um gerador de caracteres; e de um misturador de som de 28 vias. Um Ver maisdos estúdios ficou adstrito à Informação diária, enquanto o outro se destinou à não-diária e ao desporto. Ambos com acesso directo à rua, para a movimentação de cenários, e, como curiosidade, cite-se que as armaduras de betão que envolviam os estúdios eram independentes da estrutura do edifício e estavam apoiadas no solo por esferas de borracha – o que tornava esses espaços à prova da mais violenta trepidação. As portas de acesso, isoladoras de som, eram, também, outra maravilha da moderna engenharia – pesando embora duas toneladas, ninguém o diria, ao vê-las deslizar com extrema suavidade e sem requerer esforço humano de maior. Voltar a fechar

4 Franco Dias à jornalista Berta Neves (TV Guia nº 320, 23 a 29.3.1985): “É natural, e de certa maneira lógico, que a Informação esteja localizada perto dos centros de decisão, como o Governo e o Parlamento, ao passo que a Produção, a ´fábrica de fazer Televisão`, pode perfeitamente estar Ver maismuito mais afastada.” Voltar a fechar

 

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