- Década de 80
- Produção Nacional, uma aposta ganha
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Uma das ilações a tirar da exposição pública “30 Anos RTP” – que, como se referiu, foi um êxito – tinha sobretudo a ver com a “saúde” da empresa, cuja memória, não sendo mais do que isso mesmo, pedia, no entanto, que fosse entendida como uma plataforma de estabilidade para os projectos do presente e, como é natural, do futuro. Projectos que, a par das realizações impostas pelo quotidiano televisivo, exigiam contínuas aplicações financeiras, vultosas. Pinho Cardão, administrador da RTP que detinha esse pelouro, fazia para o Jornal do Comércio,1 a síntese do orçamento para 1988: “Os proveitos são de 19,4 milhões de contos e os custos andarão à volta dos 19 milhões. Estimamos ter um resultado de exploração previsional de 450 mil contos em 1988. Destes 19,4 milhões de contos de receitas podemos distinguir cerca de 11 milhões de receitas de publicidade, 5 milhões provenientes das taxas,2 milhão e meio das indemnizações compensatórias3 e outras receitas – “merchandising”, venda de programas e outros ajustamentos contabilísticos.” Graças a uma política de contenção de custos e aumento dos proveitos (nomeadamente das receitas publicitárias), o certo é que a RTP ultrapassara a fase dos grandes prejuízos registados em 83, 84 e 85, mas não ignorando o peso dos resultados negativos transitados de anos anteriores e que atingiam os 3,8 milhões de contos.
A estabilidade que então caracterizava a vida da RTP4 também favorecia a sua aplicada atenção ao relacionamento com outras televisões de raiz próxima. Foi assim que promoveu em Lisboa (Maio de 1988), o 1º Encontro de Televisões de Língua Portuguesa, visando o desenvolvimento do espaço de colaboração mútua, a todos os níveis, entre as estações participantes: TEVEC (Cabo Verde), TVE-GB (Guiné-Bissau), TVE-RDSTP (S. Tomé e Príncipe), TPA (Angola) e TVE-M (Moçambique); TV Bandeirantes, TV Manchete, SPB, TV2 Cultura e TV Globo (Brasil); RTP-USA de Newark e Portuguese Channel de New Bedford (Estados Unidos); e ainda produtores deprogramas em língua portuguesa emitidos na África do Sul e Canadá. Durante 5 dias, procurou-se reforçar a cooperação e os objectivos entre os que trabalhavam para uma plateia de 150 milhões de pessoas que, em 5 continentes, se entendem pela mesma língua. Como então afirmou Coelho Ribeiro, Presidente do Conselho de Gerência da RTP, “entre as nossas prioridades conta-se o desenvolvimento das relações com as estações dos países de língua portuguesa e das comunidades portuguesas emigradas, porque, através da língua, dispõem de um eficaz instrumento para se aproximarem, de uma força de extraordinárias potencialidades cujo desperdício nenhum argumento ou nenhuma omissão poderão justificar.” O Vice-Presidente do Conselho de Gerência da RTP, Brás Teixeira, a quem se devia a dinamização do projecto, moderou as sessões de trabalho que decorreram no Auditório da 5 de Outubro e que, paralelamente, proporcionaram o visionamento de programas. No seu termo, o Encontro apresentou algumas conclusões, como as que apontaram para a necessidade de se intensificarem esforços nos domínios da produção, pela criação de um “fundo de apoio”, com participações públicas e privadas; da troca de programas, pela criação de um “banco de programas” em língua portuguesa, disponíveis, sem custos, para todos os interessados; da Informação e da formação profissional.5

1 Edição de 12.1.1988, entrevista conduzida por Joaquim Pedro Campos.
2 No início de 1988 fora promulgado o novo regime de pagamento de taxas. Assim, um receptor a cores passava a pagar 5 250$00; e um a preto e branco, 2 760$00. Porém, a grande novidade, muito bem acolhida, foi a de que, a partir de então, e independentemente do Ver maisnúmero de aparelhos instalados, cada residência só pagava taxa por um deles. Voltar a fechar
3 Na mesma entrevista, Pinho Cardão considerava que o custo da componente de serviço público de Televisão podia ser quantificado de 5 a 5,5 milhões de contos. E acrescentava: “As indemnizações compensatórias justificam-se precisamente como contrapartida do serviço público que é exigido à empresa. E o Estado tem de dotar Ver maisa empresa desses valores e, se a empresa der lucro, resta-lhe, através de remuneração do capital estatuário, vir recuperar o capital investido na Televisão.” Para depois ponderar, com alguma apreensão: “As indemnizações compensatórias estabelecidas por lei só dizem respeito aos Centros Regionais da Madeira e dos Açores e, mesmo assim, tem havido alguma resistência por parte dos governos. Não é o caso deste, que pagou a totalidade referente a 86 e 87, mas, em anos anteriores, nem sempre as indemnizações devidas foram pagas à RTP.” Voltar a fechar
4 Quase no final do ano, o Conselho de Gerência dava público conhecimento (após tê-lo feito aos trabalhadores) de que pagara antecipadamente os empréstimos garantidos pelas hipotecas do edifício da 5 de Outubro e das instalações do Lumiar (montante global: 646 780 contos), considerando que tal só fora possível na Ver maissequência da recuperação financeira da empresa, cujo património estava, a partir de então, totalmente livre de ónus ou encargos. Voltar a fechar
Recorda-se que, em 1981, como garantia de financiamento contratado junto da Caixa Geral de Depósitos para aquisição do edifício da Avenida 5 de Outubro, procedera a RTP a uma hipoteca deste edifício; em 1983, hipotecara ao Montepio Geral as instalações e terrenos do Lumiar; e, em 1985, fizera uma segunda Ver maishipoteca das instalações da sua sede. Voltar a fechar
5 Valerá a pena recordar que cerca de duas mil horas de programação tinham sido enviadas pela RTP, em 1987, para África, com destino a Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Moçambique. Estes países receberam também equipamento vário e dispuseram da possibilidade de formar o seu pessoal através da Ver maisRTP. Desde a sua criação, em 1983, o Gabinete de Cooperação (na dependência directa do Conselho de Gerência) vinha estabelecendo a ponte que parecia necessária, acompanhando os primeiros passos das estações de TV de língua oficial portuguesa. A Guiné-Bissau ainda não dispunha dela e o relacionamento entre a RTP e a TPA (Angola), que começou por assentar em bases comerciais, veio a ser encarado também sob outra óptica a partir do momento em que se assinaram acordos de cooperação que previam cedências de programas, assistência técnica e acções de formação. Voltar a fechar
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