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  • Década de 70
  • RTP-2: um novo Canal
  • pag17

Foi durante o ano de 79 que novos locutores da RTP se confirmaram nos lugares a que ascenderam por concurso público: Cândido Gerardo, Fátima Medina, Fernanda Garcia, Helena Pinto, Helena Ramos, Isabel Ayres, Isabel Bahía, Manuela Matos (Moura Guedes), Margarida Andrade (Mercês de Melo), Teresa Cruz, João Abel da Fonseca e Miguel Coelho.46 Mais tarde, e para colmatar pequenas “brechas”, entretanto abertas, entraram para o mesmo quadro, Luís António Ferreira e António Ferreira de Almeida. Aos novos locutores foram confiadas, basicamente, tarefas na área da continuidade das emissões (não apenas a indicação, periódica, do que se ia mostrar mas, também, e eventualmente, introduções a programas), porém com liberdade criativa que os seus antecessores mal tinham conhecido. Quer isto dizer que eram eles que preparavam os textos que liam e até mesmo os chamados blocos de promoção passaram algumas vezes a dispor de sequências de imagens e sons por eles seleccionadas. O contacto directo com o público na apresentação das emissões de cada dia (ou dos dias mais próximos) conferiu pois enorme responsabilidade ao locutor-apresentador, que continuava a ser identificado com a própria RTP.

Há também novos jornalistas no pequeno ecrã, com percurso a adivinhar-se duradouro. Como Miguel Sousa Tavares, Diana Andringa e Joaquim Vieira (que, com Joaquim Furtado, fizera “Os Anos do Século”, uma analítica retrospectiva, com excelente sentido de narrativa-TV). Ou como Judite de Sousa47 e Maia Cerqueira, que se distinguiram num concurso que reuniu cerca de 200 candidatos. Mas a Redacção do Telejornal, no Porto, não tinha mais de duas vagas, portanto... ei-las preenchidas. Era uma altura em que se procuravam experimentar (ou consolidar) métodos de trabalho que se afigurassem mais proveitosos para a RTP, na sua permanente “ginástica” de adequação às circunstâncias que se iam vivendo, marcadas por problemas de ordem política e financeira, principalmente, embora a recente Lei da Radiotelevisão tivesse vindo limar arestas dos primeiros e alguns documentos já em fase de estudo avançado pudessem vir a contribuir paraa melhoria dos segundos. Soares Louro evidenciou sempre grande capacidade para liderar as situações, mesmo as mais adversas, e teve o mérito de, quase sempre, saber rodear-se de colaboradores voluntariosos, precisos para enfrentar grandes desafios, como os que passaram pelo reequipamento e pela reorganização da empresa. Iniciou-se a experiência de uma nova estrutura de produção-realização, assente em equipas polivalentes (as UP’s - unidades de produção), as quais – atendendo às suas características e objectivos – encontravam um corpo privilegiado de experiência nos programas designados e tipificados como “pequena e média produção”. A outro Departamento, este de “grande produção”, foram confiadas experiências pontuais de trabalhos de polivalência, a concretizar, caso a caso, segundo directrizes superiores. Mas o que se dava como desígnio comum era a autonomia e a responsabilização dos produtores-realizadores nos trabalhos que lhes eram confiados. O departamento de “pequena e média produção” dispunha de 15 UP’s; o da “grande produção”, de 9. Um quadro de 12 produtores engrenava no sistema quando este o requeria ou face às necessidades dos novos projectos que, aliás, eram os primeiros a apreciar. Os Recursos Humanos, onde o responsável pela gestão, dr. Vieira Machado, vinha desenvolvendo acção concertada com as estruturas, de modo a que o novo enquadramento de cerca de duas centenas de funcionários se processasse com os inconvenientes mínimos, também dinamizaram, com o Centro de Formação, as acções necessárias à reciclagem do pessoal ou à sua integração em cursos especialmente orientados para as funções criadas. O realizador Manuel Faria de Almeida era, desde Outubro, embora temporariamente, o responsável pela área, cumprindo com mérito a actividade pedagógica que se exigia e que era, naturalmente, bastante diversificada.

Certo é que, na viragem para os anos 80, a RTP teve quem pensasse em si, quem a obrigasse a exercícios de introspecção quantas vezes foi preciso, não só para não voltar a erros do passado mas, principalmente, para que se aplicasse no muito que ainda podia criar, para que não falhasse a sua participação na geografia tecnológica com que se lia o Mundo, para que desse, enfim, plena aplicação ao potencial humano de que dispunha e que havia de manter em permanente aprendizagem das formas de comunicar.

Nem tudo o que foi projecto se concretizou, como houve os que, não provando, se fizeram abortar. Mas a Administração de João Soares Louro levou adiante uma boa série deles, que motivaram claras fases de melhoria de produto e de expansão de auditório. Pela primeira vez se ouviu falar da possibilidade da RTP se transformar num núcleo de empresas interligadas, conjugando sectores de produção e comercialização que, assim, melhor poderiam lidar com a situação económica (que passaria a própria de cada um, tanto nas receitas como nas despesas) e planear financiamentos e investimentos específicos de cada área. Era, sim, o cenário que tanto se viria a comentar – o das “holdings”, na sua versão final anos 70.

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46 “Gostava de colaborar em pequenos programas onde me pudesse realizar melhor. Tenho gostado muito de ser eu própria a trabalhar nos textos, tentando que sejam simples e eficazes, mas, como a apresentação é sempre formal, gostava de ter outro tipo de participação” – palavras de Isabel Bahía para Informação Ver maisRTP – Boletim Interno, nº 3, Dezembro de 1978 (entrevista recolhida por Manuel Faria de Almeida), que acolheu, ainda, breves opiniões de outros novos locutores, face às suas perspectivas de trabalho. Assim, de Helena Pinto: “Gosto do trabalho, sobretudo da preparação dos textos para a introdução explicativa de um programa (...). Tenho uma necessidade muito grande de criar”; de Teresa Cruz: “A nível interno tenho recebido elogios quanto aos textos e quanto à presença e, de fora, só de pessoas conhecidas. Só que às vezes dizem que sou triste e que a imagem não corresponde à minha imagem lá fora (que tem mais vivacidade)”; de João Abel da Fonseca: “Esperamos ser mais aproveitados, porque sentimos que, até agora, estamos muito aquém daquilo para que fomos preparados”; de Miguel Coelho: “Sinto especial prazer em conceber e fazer promoções, o que não tenho conseguido totalmente por falta de material. Não tenho recebido reacções nem internas nem externas – das quais sinto uma certa necessidade.” Também a revista TV Guia ouviu as primeiras confidências das novas locutoras. Fátima Medina: “As câmaras assustaram-me bastante. Tive mesmo medo de não conseguir, mas não quis deixar de tentar. Depois comecei a sentir-me mais à-vontade e perdi o medo àquele ´bichorro de luz vermelha` ” (nº 27, 11 a 17.8.1979); Manuela Matos (Moura Guedes): “Sentir que quando estou a trabalhar isso quer dizer que estou a comunicar com tanta gente, é uma coisa simplesmente fascinante” (nº 35, 5 a 11.10.1979); Helena Ramos: “Não sinto de facto uma grande diferença entre os programas de antigamente e de agora, é esta a minha opinião como espectadora. É evidente que, como profissional da casa, vejo a programação com um sentido muito mais crítico, nomeadamente a nível técnico. Considero pois que a programação vai muito pouco ao encontro do espectador.” (nº 38, 27.10 a 1.11.1979); Cândida Gerardo: “Considero importantíssimo o meu trabalho na RTP, apesar de nos limitarmos a ler os textos do que vai ser a programação. É importante porque, afinal, nós somos o cartão de visita da Televisão e penso que a maneira como as pessoas recebem os programas, depende muito da maneira como nós os apresentamos. É, contudo, uma função muito limitada. Gosto muito de locução, mas de uma locução mais criativa, mais dinâmica” (nº 41, 17 a 23.11.1979). Voltar a fechar

47 À pergunta de um jornalista da TV Guia, “– O que pensa da apresentação de um Telejornal?”, Judite de Sousa respondeu: “Não considero a apresentação ou a difusão da Informação a parte mais importante do jornalismo. Por trás da apresentação, está um longo trabalho de reportagem, entrevistas, redacção e Ver maistantas coisas mais. Sem falar, claro, nas centenas de companheiros que tecnicamente, constróem a imagem e o som. No entanto a apresentação tem um grande peso junto do público – uma má apresentação pode estragar esse longo trabalho que está por trás do rosto do apresentador. Pela minha parte, ao apresentar um serviço informativo orientam-me dois objectivos: a comunicabilidade e a credibilidade que as pessoas sentirão no que eu lhes digo” (nº 40, 10 a 16.11.1979). Voltar a fechar

 

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