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  • Década de 80
  • A RTP aos 25 Anos, as primeiras telenovelas portuguesas
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Palma-Ferreira iniciou pois as suas funções no meio de enorme expectativa, repartida pelo exterior e pelo interior da empresa – mais por este, naturalmente, já que seria aí que mais se iriam reflectir as suas próximas reflexões (e decisões). Não que lhe dissesse directamente respeito, mas a verdade é que Palma-Ferreira se apercebeu que havia muito boa gente a estranhar as circunstâncias pouco claras que rodearam o afastamento do seu antecessor, Macedo e Cunha. Teria existido certa passividade permissiva do seu Partido, principalmente ao nível das cúpulas, e procurava-se agora encontrar, bastante a propósito, alguns pontos “quentes” que pudessem ter aberto caminho à decisão. Como o caso da inserção em “Grande Reportagem” do documentário “África do Sul: até à última gota de sangue” (originário da BBC), com uma visão sobre o “apartheid” não do agrado do embaixador daquele país em Lisboa, que acabou por imiscuir-se em terrenos que não eram seus e, mais, levou o Presidente da República e o Primeiro-Ministro a manifestarem-se pela não oportunidade da passagem do referido programa.31 Como o caso de uma resposta lamentavelmente preparada (e suportada por dados pouco convincentes) a um grupo de 23 intelectuais que divulgaram um documento-crítico, acerbo, à programação da RTP, notadamente à sua vertente cultural. Como, ainda, o caso de se ter deixado avançar, ao que parece sem as contas bem feitas, uma grande produção idealizada por Maria Elisa e Artur Albarran, “A Casa do Castelo”. O novo Presidente ordenou a sua suspensão e, mais tarde, riscou-a do mapa de projectos.

Em começo de mandato, Palma-Ferreira tinha pois concentradas sobre si todas as atenções. Que se assestavam, igualmente, em José Niza (PS), a quem fora atribuído o pelouro da programação,32 e nem outra coisa se esperava que sucedesse, conhecendo-se a sua boa relação com a música e, principalmente, por ter sido Director de Programas no consulado de Edmundo Pedro. Era, assim, o regresso a uma área que Niza conhecera e onde agora, com responsabilidade elevada, queria ir mais longe, acompanhado pelos 3 assessores-consultores que fez questão de nomear logo que teve poderes para isso: António Reis,33 antigo Secretário de Estado da Cultura num governo PS, para a programação cultural; Alberto Seixas Santos, realizador de cinema, para os filmes e séries; e Júlio Isidro para os recreativos. Olhares, também, sobre Mário Cerqueira Correia (PSD) a quem foi confiada a tutela da sempre polémica área da Informação, refira-se que com alguma surpresa, pois o seu gabinete-base era no Porto (com um assessor oriundo da Redacção do Monte da Virgem, Manuel Rocha, de quem também se ouvirá falar, mais tarde), mas a verdade é que manterá o encargo por pouco tempo, já que, em Setembro, é Palma-Ferreira que faz questão de o assumir, passando a ocupar-se, pessoalmente, dos muitos problemas que iam surgir (eles aí estavam!). Também por essa altura, Fialho de Oliveira sai da espécie de “congelador” onde a empresa o retivera longos meses e aceita o cargo de Director-Coordenador de Informação, que já fora seu na administração de Cunha Rego. Mas aceita-o com a condição de introduzir as alterações que entendia mais convenientes, pois o quadro orgânico que encontra não o satisfaz: Nuno Coutinho, jornalista da RTP desde antes do 25 de Abril, ligado ao PS, está nas funções de Director de Informação diária (as anteriormente detidas por José Eduardo Moniz); e Hélder Freire, jornalista com poucos anos de RTP, ligado ao PSD, ocupa o lugar de Director de Informação não-diária (anteriormente confiado a Adriano Cerqueira). Foram nomeações feitas na hora de entrada do novo Conselho de Gerência, a título interino, mas, ainda assim, mostravam desde logo o propósito de estabelecer o equilíbrio (ou a partilha?) da Informação televisiva entre os 2 partidos que participavam no Executivo.

Fialho de Oliveira pretendia uma estrutura hierárquica simplificada e viria a implementá-la após vencer oposições lideradas por núcleos partidários em luta pela defesa das suas “figuras”. Acabou com as direcções de Informação diária e não-diária, substituindo-as por dois departamentos: Noticiários e Actualidades. Entregou a chefia do primeiro a Nuno Coutinho e a do segundo a Fernando Balsinha, passando os Chefes de Redacção a reportar-lhes directamente. Nas Actualidades, Mário Zambujal, responsável pelo “Fim de Semana”, ascende a chefe de Redacção (o outro é Carlos Pinto Coelho), enquanto Barata-Feyo (“Grande Reportagem”), Pedro Luís de Castro (“Panorama”) e Margarida Marante (“Primeira Página”) passaram a depender do chefe de Departamento respectivo. Na dependência directa do Director-Coordenador ficaram o Subdepartamento de Desporto (em que se manteve Bessa Tavares), os serviços de apoio à Informação e um criado Gabinete de Projectos Especiais, que recebeu os jornalistas Diana Andringa e Seruca Salgado. Pertencerá mesmo a Diana Andringa um destemido avanço para o longínquo e turbulento Afeganistão para, com os companheiros Manuel Carvalho (câmara) e Norberto Lopes (assistente), tentarem a infiltração nos cenários do conflito e, a partir daí, construírem a sua narrativa “Afeganistão: a resistência em nome de Deus”, para a série “Refugiados no Mundo”. Um trabalho conseguido, sendo que as imagens nele desfilam com impressionante verdade e, lá pelo meio delas, o que também se encontra é o olhar sentido dos repórteres.

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Redacção de Informação da RTP-Porto


31 A propósito, escrevia o Diário de Notícias (26.5.1983) em Editorial sob o título “A Cedência da RTP”: “(...) Mais grave, porém, do que a atitude do Governo de Pretória foi a imagem de cedência que a RTP transmitiu. De facto, não basta ao presidente da Televisão dizer agora que Ver mais‘não seria um ‘telex’ que nos levaria a suspender o programa.’ O programa foi suspenso em condições que permitem a dúvida. À mulher de César não basta ser honesta. É preciso parecê-lo. A Televisão portuguesa não pode estar à mercê de interesses estrangeiros, venham eles da África do Sul ou da União Soviética. Não pode ceder, nem pode sequer parecer que cede a pressões de tal natureza.” Voltar a fechar

32 Páginas atrás, no devido enquadramento circunstancial, já se referiu o facto, mas volta a ser oportuno lembrá-lo – Carlos Cruz acabava de deixar a direcção de Programas e Tomás Rosa, o Presidente da altura, chegou a pensar substituí-lo por uma direcção bicéfala: divulgação e cultura, com Palma-Ferreira; musicais e Ver maisrecreativos, com José Niza. A história, mesmo a da RTP, não pára de nos surpreender. Voltar a fechar

33 Trata-se do cadete da EPAM que esteve na ocupação dos estúdios do Lumiar na madrugada do 25 de Abril, como já referimos, e cujos trabalhos sobre a história do período que então se iniciou também aqui têm sido referidos, algumas vezes.

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