- Década de 60
- RTP aos 10 Anos
- pag17
Dos estúdios do Porto, Nuno Fradique realiza “A Lena e o Carlos”, uma série de episódios de comédia; de Lisboa, Fernando Frazão responde com o mesmo género, realizando “Aventuras de Eva”, com a actriz brasileira Eva Todor. Mas se os realizadores continuavam a aplicar, nos espectáculos de teatro, a sua maior capacidade criativa (até porque, quase sempre , eram eles os encenadores; e, quando não, tinha de lhes pertencer o toque final do posicionamento dos actores perante as câmaras), a verdade é que uma área de trabalho que dava nas vistas, desde o “Monólogo do Vaqueiro”, era a da cenografia, que sob a direcção do arqº Marcello de Moraes, primeiro, e de Octávio Clérigo, depois, produzia não apenas em quantidade mas, sobretudo, em qualidade. O exíguo espaço do estúdio, sempre cenário de muitos cenários, era o pequeno mundo de cenógrafos como António Botelho, Hernâni Lopes, Eduardo Lemos, Moniz Pereira, António Casimiro e, naturalmente, dos próprios chefes, Marcello e Clérigo, que até nem se davam bem com o ar dos gabinetes... Do esboço ao desenho, da maquete à carpintaria, do controlo da montagem final até à escolha dos adereços (muitas destas operações em sintonia com o parecer do realizador), era trabalho para longas horas, que, ao fim, iriam ser “consumidas”, quantas vezes, em menos de uma. No tempo do directo, raro era quando não se trabalhava 24 horas por dia. Logo que a emissão terminava, entravano estúdio o mestre-carpinteiro com a sua equipa e lançavam-se ao derrube do cenário. De manhã, pegava outro turno, de planos na mão, para erguer um novo. À tarde, ensaiava-se (algum trabalho já vinha feito de uma tosca sala de ensaios que ficava lá para os fundos do “quintal” do Lumiar) e, à noite, emitia-se. Depois, retomava-se o ciclo. Moreira Rijo, Manuel Costa (um hábil fabricante de logótipos, entre eles os da própria estação), Alves da Silva, José Filipe, Fernandes Silva (embora por pouco tempo, dessa vez) estavam no gabinete de grafismo, um pouco longe dessa “balbúrdia controlada”, mas, ainda assim, sempre atarefados com as legendas necessárias para os genéricos dos programas (não só de teatro... mas de quase todos), naquilo que podia classificar-se como um trabalho “na sombra”, sem alardes e onde a criatividade ficava quase sempre ignorada.
António Pedro é, também ele, um homem de teatro, entre tantas outras artes que seguiu (e serviu) com extrema devoção. Desde os estúdios do Porto (a que se pretendera imprimir algum dinamismo, pelo que o realizador Nuno Fradique fora temporariamente deslocado para o Monte da Virgem, onde estavam Adriano Nazareth e Correia Alves e onde também estiveram Jorge Listopad e Manuel Alvito) falou, então, fluentemente, disso mesmo, de teatro – e, especialmente, da encenação, a área onde se dava como mais realizado. À sombra deste conceito muito seu, “a técnica não é princípio nem fim – é meio” que, curiosamente, evocou logo no seu primeiro programa de Televisão, como a justificar-se por estar nela.